Vasculho na memória algo de ti,
Olhares passados que nunca existiram,
Nunca te vi, nunca te toquei,
Nunca tive os teus dedos na minha cara,
Nunca me passaste a mão no cabelo,
Nem nunca me roubaste uma lágrima que só escapava,
Eu nasci, cresci e nunca me viste a ser menino,
Nunca me viste a correr para os teus braços,
Nem nunca te deixei cair nos meus,
Não partilhámos o primeiro amor,
Não vivemos juntos os primeiros medos,
Mas aqui estou, resistente,
E aqui estarei, persistente,
Insistindo em vasculhar a memória,
Como que para não deixar de o saber fazer,
Porque lá longe no tempo,
Quando a voltar a vasculhar,
Sei que então não custará,
Pois, nada, não é o que encontrarei,
Ver-te-ei em cenas passadas,
Ver-te-ei ao meu lado,
Ver-te-ei comigo a rir, e a chorar, e a amar,
Sentirei não vazio, angustia, mas felicidade,
Ver-te-ei com os lábios a chamar-me tonto,
Saberei então que estás lá,
Tanto na memória como ao meu lado,
E descansarei ao teu colo,
Com a tua mão no meu cabelo,
E os teus dedos na minha cara,
Assim,
Quietos,
Compensando o fraco esforço,
Que despendi em te recordar,
Nos tempos em que me foi dificil,
Sabendo que não te tinha,
Ter força para te amar.
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