quarta-feira, abril 19, 2006



Vasculho na memória algo de ti,
Olhares passados que nunca existiram,
Nunca te vi, nunca te toquei,
Nunca tive os teus dedos na minha cara,
Nunca me passaste a mão no cabelo,
Nem nunca me roubaste uma lágrima que só escapava,
Eu nasci, cresci e nunca me viste a ser menino,
Nunca me viste a correr para os teus braços,
Nem nunca te deixei cair nos meus,
Não partilhámos o primeiro amor,
Não vivemos juntos os primeiros medos,
Mas aqui estou, resistente,
E aqui estarei, persistente,
Insistindo em vasculhar a memória,
Como que para não deixar de o saber fazer,
Porque lá longe no tempo,
Quando a voltar a vasculhar,
Sei que então não custará,
Pois, nada, não é o que encontrarei,
Ver-te-ei em cenas passadas,
Ver-te-ei ao meu lado,
Ver-te-ei comigo a rir, e a chorar, e a amar,
Sentirei não vazio, angustia, mas felicidade,
Ver-te-ei com os lábios a chamar-me tonto,
Saberei então que estás lá,
Tanto na memória como ao meu lado,
E descansarei ao teu colo,
Com a tua mão no meu cabelo,
E os teus dedos na minha cara,
Assim,
Quietos,
Compensando o fraco esforço,
Que despendi em te recordar,
Nos tempos em que me foi dificil,
Sabendo que não te tinha,
Ter força para te amar
.